segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Entrevistas - 5

LUIZ AYRÃO

Grande cantor, excelente compositor, Luiz Ayrão mostrou-se também uma pessoa absolutamente atenciosa, simpática e carismática.

Sem qualquer estrelismo, atende bem à imprensa e fala de peito aberto.

Prestes a fazer um show em Itu, Ayrão deu uma entrevista exclusiva ao repórter Moura Nápoli, do Ampulheta Virtual.

Confira:

Moura Nápoli - Como foi seu início de carreira? Conviver com músicos
facilitou?
Luiz Ayrão - Comecei a compor, ainda bem pequeno. Profissionalmente, quando Roberto Carlos, meu vizinho de bairro, gravou minha primeira música. Passei dez anos apenas como compositor, até tornar-me cantor em 1973 para 74. Enquanto isso estudei, me formei e advoguei, até estourar logo no meu primeiro disco. Meus avós paternos, meus tios e, principalmente, meu pai, me influenciaram bastante. A música já veio no meu DNA. Não virei artista, como hoje acontece muito, nasci artista.

M N - Antes de você emplacar seu primeiro sucesso como cantor, já havia feito sucesso como compositor. Você pensava em cantar ou aconteceu naturalmente?
L A - Sim, já era um compositor de muitos sucessos, daí o interesse das gravadoras por mim. Costumo dizer que, no meu caso, estava escrito, e tudo foi acontecendo normalmente, porém, claro que não caiu do céu.

M N - Como é sua relação com a Portela? E o Flamengo?
L A - Infelizmente, não tenho muito tempo para dedicar à minha escola. Atualmente, sou benemérito, e tenho muitos amigos por lá e, sobretudo, o respeito de todos pela minha história. Quanto ao Flamengo, é uma paixão da infância, mas hoje admiro e aplaudo quem estiver jogando um futebol bonito.

M N - Na sua visão, porque grandes nomes da MPB vivem apenas de shows e não emplacam mais sucessos em rádios?
L A - As principais emissoras musicais são as rádios em FM. As de maior audiência vendem seu espaço para executar uma canção. Cada segmento musical tem duas ou três emissoras com seus preços, que variam de quinze a vinte e cinco mil reais (sobretudo nas grandes capitais, como Rio e São Paulo), para incluir um lançamento em sua grade de programação, em geral composta por quarenta músicas. O negociador da rádio, pretendendo demonstrar a eficácia de sua emissora, inclui alguma coisa imediatista, que o povo aprenda logo, e, como papagaio, saia cantando por aí como se canta um gingle qualquer, como por exemplos, de maionese, refrigerantes, analgésicos, etc. Pagou: tocou! A mínima qualidade: dançou! A música por ser executada, em geral, por um prazo de sessenta dias, vai parecer sucesso espontâneo. Será apontada nos importantes boletins de execução, que estarão sobre as mesas das produções dos programas de televisão. Daí... Um ataque geral e massivo é negociado em várias emissoras simultaneamente, e a música toca muito, mas durante menos tempo do que seria necessário. O intérprete fica conhecido, mas a canção atinge muito menos pessoas. As pesquisas sempre indicaram que para um lançamento ficar gravado na memória e na História seria preciso tocá-lo por quase um ano seguido. Hoje tocam, no máximo, dois meses, isto porque a emissora tem pressa em trocar a programação e assim renovar o “contrato” e cobrar mais uma vez pelo trabalho de uma nova música do CD. Esta, quase que invariavelmente, não tem qualidade, e quem a ouve também não tem qualidade como ouvinte. Pergunta-se: o que povo guardará e cantará daqui a alguns anos?

M N - A verdadeira MPB perdeu espaço para bundas e peitos siliconados?
L A - Há momentos na vida, em qualquer tempo dela, em que há espaço para se gostar de cada coisa, mas cada coisa no seu lugar.

M N - Você está com um novo espetáculo e fará o lançamento em Itu. Fale sobre essa nova empreitada.
L A - Acabo de lançar, com prefácio do historiador e pesquisador Ricardo Cravo Albin, o livro “Meus Ídolos & Eu” na 17ª Bienal Internacional de São Paulo, em agosto último. Com roteiro teatral, tenho realizado espetáculos onde conto as histórias do livro e canto minhas canções de sucesso. Narro os chamados ‘causus’ pitorescos e inusitados acontecidos com inúmeros ícones da MPB e do Teatro, em shows, viagens e bastidores, como Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Agnaldo Timóteo, João Nogueira, Demônios da Garoa, Padre Marcelo, Elis Regina, Vinícius de Morais, Chico Buarque, Tom Jobim, Gonzagão, Gonzaguinha, Daniel, Dominguinhos, Jovelina Pérola Negra, Jamelão, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, Daniel Filho, Reginaldo Rossi, Gretchen e mais sessenta colegas dos quais ouvi historinhas e as compilei nos últimos 40 anos. Venho alcançando grande êxito junto ao público e à imprensa, em teatros por todo o Brasil e plateias de 300 a 1000 pessoas. Atuo com 4 músicos e é uma nova opção e um novo desafio que tem dado certo.

Moura Nápoli - O Ampulheta Virtual agradece de coração sua atenção, seu carinho, respeito para com seus fãs e deseja-lhe toda sorte. Muita paz, saúde e prosperidade.
Luiz Ayrão - Eu é que agradeço e me ponho sempre à disposição. Aproveito a oportunidade e convido a todos para estarem conosco no dia 3 próximo, no Temec, em Itu.

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