terça-feira, 27 de outubro de 2009

Entrevistas - 4

PAULO GOMES

Pode um bom baiano ser "Fluminense" doente?

Sim pode. Basta conhecer Paulo Gomes, radialista e dono de uma grande comunidade no Orkut chamada As Feras do Rádio Esportivo. Nem é preciso dizer que Paulo Gomes é amante do rádio esportivo e conhece tudo e um pouco mais do veículo.

Também tem um sugestivo blog, o Observando e Abusando, que mostra toda sua versatilidade, discorrendo com maestria sobre os mais diversos assuntos.

Falei em sua paixão pelo Fluminense mas não posso deixar de citar que ele idolatra ninguém menos que Raul Seixas e Nelson Rodrigues. O homem sabe das coisas...

Do alto de sua experiência, Paulo Gomes nos fala um pouco sobre sua carreira no Ampulheta Virtual:

Ampulheta Virtual - Como você começou no rádio? Você sonhava em ser radialista ou simplesmente aconteceu?
Paulo Gomes - Comecei na Transamérica FM de Salvador em 1990 como locutor e produtor, a convite de um grande amigo e profissional chamado Walter Marcos que trabalha e vive em Portugal há mais ou menos 15 anos. Sempre sonhei e sempre soube que seria radialista. Com seis anos de idade eu já respondia "na lata" aquela velha pergunta que fazem às crianças: "o que você vai ser quando crescer"?.. Eu dizia: "Locutor de rádio! Locutor esportivo!" Improvisava a escova de cabelo como microfone e narrava os jogos de futebol de botão com os times e nomes de jogadores que eu mesmo inventava. Realmente foi um dom que já trouxe para essa vida.

A.V. - Quais seus momentos mais marcantes?
P.G. - Foram muitos: a fase inicial na Transamérica que foi muito rica profissionalmente e cheia de entusiamo, quando alcançamos em poucos meses o 1º lugar em audiência em Salvador quando comandei e produzi dois programas. Depois em 94, em Portugal, onde trabalhei em duas emissoras, a Rádio Miramar de Lisboa e a Liz FM em Leiria, onde ao lado desse meu amigo Walter Marcos - uma verdadeira FERA DO RÁDIO -, criamos e transmitimos um projeto inovador para os portugueses: a Copa do Mundo dos EUA, misturando futebol e humor. Depois o período de 1996 a 2005, em que trabalhei na extinta 104 FM de Salvador (hoje A Tarde FM) onde atuei como produtor, noticiarista e locutor. E também na Rádio Cultura da Bahia, em 1996, quando fizemos um programa chamado Ultraleve, o toque de humor no esporte, onde satirizava os fatos e personagens do futebol e do rádio esportivo. O sucesso foi tão grande, mesmo sendo uma rádio considerada pequena, que no ano seguinte fui convidado a adaptar o quadro Jornal Bola Murcha, na TV Itapoan Record, mais precisamente no programa Telesportes Especial ao lado de grandes profissionais como Chico Queiróz, Paulo Cerqueira, Moisés Bisesti e Edmundo Filho. Na TV Itapoan também atuei como narrador esportivo e produtor da equipe esportiva. Esses foram os mais marcantes.

A.V. -
Quais seus idolos? Chegou a ter contato pessoal com algum deles? Qual ídolo gostaria de ter conhecido e não conseguiu?
P.G. - Eu sempre tive muitos ídolos! No rádio baiano meu ídolo foi Fernando José, um profissional extremamente inteligente, criativo e versátil. Fez esporte e programa jornalístico com a mesma competência. Infelizmente não cheguei a ter contato com ele, pois quando eu iniciei no rádio ele justamente deixava o veículo pois ganhara a eleição para prefeito de Salvador. Eu era tão fã dele, que minha estréia na Transamérica foi fazendo um personagem que era a sátira a ele. Fazia a voz com incrível semelhança. Daí o surgeimento do personagem José Fernando um ex-prefeito que virava radialista (a história inversa a verdadeira). Era uma maneira humorada de criticar a aventura dele na política. Mas apesar de ser baiano, sempre busquei como referência o rádio do Rio de Janeiro, por quem sempre tive verdadeiro fascínio e adoração. Meus ídolos eram Waldir Amaral, João Saldanha, Jorge Curi, José Carlos Araújo... No humor sempre foi o Carlos Roberto Escova, da dupla Tatá e Escova do Balancê da Rádio Excelsior de São Paulo, programa apresentado pelo Osmar Santos e Juarez Soares e posteriormente pelo Faustão, que o adaptou com grande sucesso para a TV quando virou Perdidos na Noite. O Escova, que pra mim é, de longe, o maior imitador do Brasil de todos os tempos. Tive o prazer de entrevistá-lo aqui pela internet numa operação especial pelo Skype, feita por um amigo de São Paulo chamado Felipe Martinelli , um jovem estudante de comunicação que vem fazendo um trabalho de pesquisa sobre o Osmar Santos, o Balancê, etc. Foi emocionante. Ficamos por mais de quatro horas entrevistando o Escova e ouvindo dele imitações antológicas. O legal é que fizemos tipo um programa de auditório, pois o Felipe conseguiu se reunir com o Escova na casa de uma família tradicional lá de Ourinhos-SP (a família Lenharo). O pessoal todo ficou na platéia ouvindo o nosso papo e rindo com as 'diabruras geniais' do grande Carlos Roberto Isaías, o Escova. Eu me emocionei de poder bater um bom e longo papo com o meu ídolo!

A.V. - Você não esconde seu amor pelo Fluminense. Como vê o atual momento do Tricolor das Laranjeiras?
P.G. - Triste, lamentável sob todos os aspectos. Um clube glorioso, de um passado irretocável, de grandes ídolos e conquistas passar por uma situação vexatória como essa, por culpa da incompetência de dirigentes que não possuem à condição de dirigirem sequer uma quitanda! E o pior: isso tudo depois de uma campanha no ano passado que por pouco não nos levou a um título que seria histórico: o da Libertadores da América e quem sabe, até do mundial de clubes... Realmente é uma tristeza pra mim que já nasci Fluminense, pois "sou tricolor de vidas passadas", como dizia um dos meus ídolos, Nelson Rodrigues.

A.V. - Você participou de um episódio da série global Ó Paí ó... narrando um jogo. Como foi essa experiencia?
P.G. - Foi gratificante, pois fui convidado e escolhido pela produção do programa que era formada por gente de grande experiência e valor profissional, por méritos e não por indicações ou influências. Eles precisavam de um narrador baiano para fazer a locução de um Ba-Vi que era o pano de fundo de um episódio cujo tema era o futebol (Fiéis e Fanáticos). E chegaram ao meu nome. Ouviram alguns trabalhos meus, gostaram e me chamaram de imediato. Foi uma experiência gratificante pois vi o meu valor reconhecido por gente como a diretora Mônica Gardenberg e pelo premiadíssimo diretor de som Paulo Ricardo Nunes (o mesmo que foi responsável por trabalhos como Cidade de Deus). Foi bem legal e divertido.

A.V. - Qual a mensagem que você deixa à quem curte o nosso Ampulheta Virtual, já que esse país não sabe cultuar a memória de seus ídolos?
P.G. - A mensagem inicial é de parabenizar o trabalho de vocês, dizendo que é muito importante registrar, informar, colocar conteúdo, referências para os mais jovens na internet. Isso é fundamental nesses tempos de muita banalização e atrofia cultural. E para o público em geral, digo que procure aqui na internet, espaços que falam da memória do rádio, do futebol, da cultura em geral e que abordam com inteligência esses assuntos e temas. Cito por exemplo as comunidades do Orkut, Feras do Rádio Esportivo, Gênios do Humor, FTT - Futebol de Todos os Tempos e blogs como o nosso Observando e Abusando http://www.blogdopaulogomes.blogspot.com/http://www.blogdopaulogomes.blogspot.com/. Vale a pena e eu recomendo!

Um comentário:

- disse...

Parabéns pela entrevista com o conspícuo baluarte da crônica esportiva brasileira, Paulo Gomes. Um cabra retado, "mulatólogo" e admirador da boa música.